terça-feira, 19 de maio de 2009

PROFESSORES DE ESPARTA

TRAGICOMÉDIA DOCENTE POR Andrea Daher, professora ateniense que trabalha em Esparta.

1º Ato: Tratado Institucional Arbitrário

Deverão ser selecionados desde a mais tenra infância, aliciados por “tias dedicadas” que alimentem o sonho da professorinha feliz, no meio de famílias pouco politizadas e que achem lindo os brochinhos das normalistas.

Deverão ser, preferencialmente mulheres, que têm o péssimo hábito de assumir a culpa de tudo, resolver os problemas de todos, fazendo compulsoriamente várias tarefas ao mesmo tempo; faceta muito útil aos interesses espartanos da educação, Homens também serão recebidos, mas convenhamos que não é Normal.

Serão separados das famílias para ingressarem na FARSA - Força de Auxílio Ratificadora da Sociedade Atual - em idade própria para que não haja tempo de criarem laços de amizade, construir famílias, ter marido e casa para cuidar. Filhos então... só os dos outros.

A intenção é positiva e visa não gerar conflitos desnecessário as futuras “tias”, para que nada lhes roube o tempo para preencher tantos relatórios e fichas que nós, supervisores da FARSA, nunca teremos tempo nem interesse de ler.

O corpo deverá ser forte e saudável, afinal, é preciso estar bem preparado para não adoecer nunca, não comprometendo assim o sagrado direito à merenda, quer dizer, à educação!

Os músculos serão trabalhados à exaustão em exercícios de apagar, escrever no quadro, corrigir e correr atrás de alunos ou correr das mães destes. Certamente é preciso ter uma estrutura óssea bem desenvolvida, para carregar sozinho no lombo toda a culpa pelo fracasso da educação.

E depois de receber limitada formação _ nada que estimule o risco da crítica, questionamento ou reflexão, mas que garanta que a “tia” saiba o que ensinar em cada série, ou melhor, em cada período e aprenda a fazer corretamente uma matriz, usar o mimeógrafo ( que não existirá na escola) seguir os livros didáticos sem pular folhas _ será engajada na frente de trabalho da FARSA.

E, como providenciado estrategicamente no início da seleção, não tendo os professores de Esparta nenhum compromisso familiar, não haverá contas ou lazer para pagar, o que não fará necessário o "percebimento" de remuneração digna, visto que seria abusiva para os “pardalmente” recheados cofres municipais.

Qualquer coisa servirá!

Gastar em que? A merenda da escola é nutritivamente deliciosa para professores espartanos, que devem comer no meio da loucura, digo, vivacidade do refeitório, enquanto os gestores fazem suas refeições em paz, no ar condicionado, porque ninguém é de ferro!

E nada de bônus cultura, porque com cultura não se constrói uma candidatura. Mas com o dinheiro do bônus...até que se faz um bom pé de meia.

Um comentário:

  1. Andréa, Tive a oportunidade de ler esse texto um dia na faculdade, entre uma conversa e outra, e acho que disse no dia, mas venho aqui deixar registrado, AMEI!!!! Seu texto é realmente muito bom e diz, com certeza, o que muitos de nós professores gostaríamos de dizer, mas não temos a coragem!!! Parabéns pela iniciativa!!!

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